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FGV EAESP 70 anos: veja como ex-aluna constrói um futuro mais equitativo e sustentável

18.11.2024

A desigualdade de gênero no mundo corporativo é um tema muito caro e que ainda gera muitas discussões. Foi nesse contexto que Julia Profeta, ex-aluna da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), com sua trajetória de sucesso, trouxe uma perspectiva única sobre essa questão.

Durante esta entrevista, a ex-aluna compartilhou suas experiências e reflexões sobre o papel da mulher na liderança, a importância da diversidade e as ações que podem ser tomadas para promover um ambiente de trabalho mais equitativo. Além disso, explorou a relação entre lucro e propósito, a importância da diversidade de gênero na liderança e as principais tendências do mercado de impacto social e ambiental.

“Assim, acabei me tornando uma ativista de gênero, ao ver tanta desigualdade por tantas indústrias relevantes para a definição da nossa sociedade e acreditar no potencial econômico que o equilíbrio traz. Ao mudar minha percepção sobre o que é importante e necessário no mundo dos negócios, ganhei muito mais clareza e confiança para questionar e criar, ao meu redor, estratégias e times em diferentes contextos, ao invés de simplesmente replicar as estratégias clássicas desenvolvidas por e para homens”, disse ela.

Descubra como a experiência da entrevistada a tornou uma defensora da equidade e da sustentabilidade e veja também os principais conselhos para aqueles que desejam trabalhar com investimentos de impacto e startups voltadas para a transformação social.

Veja a entrevista completa abaixo.

Como a formação em Administração de Empresas na FGV EAESP ajudou a moldar sua visão sobre impacto social e ambiental?

O curso de Administração de Empresas na FGV EAESP me proporcionou acesso a uma grande diversidade de temas e engajamentos extracurriculares que ajudaram a moldar minha visão sobre impacto socioambiental relacionado a negócios. Durante meu tempo na FGV EAESP, tive a chance de conhecer possibilidades além do capitalismo puro, do voluntariado e da filantropia.

Ter ingressado na Júnior Pública e feito cursos como o de Triple Bottom Line do Instituto do Banco Mundial foram minhas primeiras experiências que mostraram o poder da lógica de negócios para criar impacto em escala e a responsabilidade que temos, através do segundo setor, de, de fato, criar o mundo em que queremos viver.

Como a experiência na graduação e ao longo da sua carreira influenciou sua visão sobre a liderança e a importância da diversidade de gênero no mundo dos negócios?

Ao longo da graduação, fui exposta a professoras brilhantes e tive a sorte de estar em uma turma onde a participação de mulheres era provavelmente cerca de 40%. Contudo, ao ingressar no mundo profissional, primeiramente no setor financeiro em geral e mais tarde no mundo do entretenimento, comecei a notar que esse equilíbrio não se mantinha, principalmente em posições de liderança.

Foram muitos anos até eu entender que tantos problemas e desafios para mulheres eram gerados pela homogeneidade de pensamento, em função do domínio masculino. A falta de exemplos femininos que realmente abraçavam as características femininas, tão necessárias para o desenvolvimento de ambientes profissionais saudáveis, me fez, por muitos anos, tentar "virar mais homem" do ponto de vista comportamental para poder me encaixar, o que foi extremamente desgastante. Tive que encontrar maneiras de me diferenciar e me colocar no mesmo patamar que meus colegas homens.

Depois de diversas experiências profissionais, muitas delas tóxicas, tive o privilégio de começar a interagir com mulheres em posições sêniores no contexto internacional, o que abriu meus olhos para a desigualdade de gênero e a necessidade de cultivarmos, no mundo dos negócios, tanto as qualidades femininas quanto as masculinas. Isso resultou na minha teoria sobre equilíbrio de gênero, que vai além da diversidade. A diversidade pode não ser representativa e virar uma espécie de "token", em que organizações acham estar fazendo o que precisa ser feito, mas, pela falta de relevância do diverso, não conseguem ver o efeito positivo que ele realmente traz. Falo mais sobre isso, incluindo números, em um artigo que escrevi originalmente para a BMW Foundation.

Qual é o principal conselho para líderes que buscam promover uma maior equidade em suas áreas?

Faça o esforço de recrutar mulheres em todos os níveis. De um lado, você começa a criar exemplos e inspiração com mulheres (femininas!) em papéis de liderança que vão atrair mais mulheres para a organização e contribuir para o desenvolvimento de uma cultura não ditada pelas conveniências masculinas. Do outro, invista em recrutar níveis mais juniores que possam crescer dentro da organização. Crie condições para que elas possam, de fato, se desenvolver e ter oportunidades de promoção.

Outro aspecto muito importante, que se fala muito menos, é como lidar com o tema da família tanto para mulheres quanto para homens. Infelizmente, dado o desequilíbrio histórico no cuidado do lar, se homens são pais, isso é visto como um bônus no currículo; por outro lado, se a mulher é mãe, ela é penalizada (existem estudos que comprovam essa disparidade). Se queremos ter mais mulheres em níveis sêniores, não podemos penalizá-las por quererem ter uma família; muito pelo contrário. Assim, é necessário dar benefícios e criar uma cultura em que os homens sejam incentivados e reconhecidos por também desempenharem o papel de pai, algo similar ao que acontece na Escandinávia.

Quais são as principais tendências que você enxerga no cenário social e ambiental e como aproveitar essas oportunidades?

Para mim, considerar as necessidades socioambientais é a grande oportunidade econômica que temos, pensando no longo prazo. A grande diferença é o tipo de perspectiva que temos ao analisar oportunidades de investimentos e negócios, dado que transformações socioambientais tendem a demorar mais para demonstrar resultados. Tantas más decisões de negócios são tomadas pela pressão de entregar resultados trimestrais, extremo curto prazo.

Uma tendência que vem se tornando cada vez mais forte ao longo da última década é, com certeza, a mudança na propriedade do capital, ou seja, quem são os novos herdeiros e quais são seus valores. Isso impacta de forma muito relevante as grandes alocações de capital. O desafio aqui é ter, de fato, ativos ao longo do espectro de investimento (perfis de risco) que satisfaçam padrões mínimos de impacto, ou seja, tanto empresas estabelecidas quanto nascentes que têm intenção genuína de impacto. Há uma grande oportunidade para essas empresas acessarem esse capital em transição.

Por outro lado, em diversos países, regulamentações estão fazendo com que organizações corram atrás do prejuízo. Dada a baixa velocidade de mudança nos conglomerados, continuamos a ver a expansão de startups focadas em tecnologias que podem revolucionar diversos aspectos socioambientais.

O que sinto que aconteceu na última década também, principalmente nos países desenvolvidos com os quais trabalho muito mais, foi a priorização do tema ambiental, dado o maior impacto dessas regiões no tópico e a menor necessidade aparentemente "iminente" de investimentos sociais – o que, em minha opinião, não pode ser ignorado de maneira alguma.

É um momento que pode ser "overwhelming" para muitos de nós, "pessoas físicas", com tantas “oportunidades e necessidades”, porque é extremamente difícil mudar radicalmente nossos padres de vida, viver com pegada zero ou negativa de carbono, mas é uma oportunidade para repensarmos nossos hábitos e, assim, entender onde estão novas oportunidades de negócios.

Quais dicas você daria para profissionais que desejam trabalhar com investimentos de impacto e startups voltadas para a transformação social?

Esse é um campo ainda emergente, apesar de estar por aí há quase 20 anos, o que significa que oportunidades de emprego "tradicionais" podem ser ainda limitadas, dependendo do contexto. Vejo assim alguns caminhos potenciais:

  1. Trabalhar em uma empresa de impacto já estabelecida.
  2. Trabalhar em uma startup criada para gerar impacto.
  3. Trabalhar em uma empresa que está tentando fazer a transição e se juntar a essa transição, de forma que possa aprender ao longo do processo.
  4. Começar sua própria iniciativa.
     

De qualquer maneira, independentemente do nível profissional, é necessário se educar e se informar. Muitas universidades começaram a oferecer cursos em diversas áreas relacionadas ao impacto, há muito conteúdo online gratuito disponível e muitos eventos dão acesso especial a estudantes. Eventos, a meu ver, principalmente os presenciais, são uma ótima maneira de se conectar com pessoas no ramo de interesse e, assim, descobrir oportunidades.

Faça uma reflexão profunda sobre qual tipo de impacto você gostaria que sua profissão gerasse. Existem termos técnicos e estratégias particulares a empresas de impacto, e as posições específicas são limitadas, mas todas as empresas, no fim do dia, vão precisar das funções mais diversas, de contabilidade a branding, RH, logística, operações, TI, e com certeza esse know-how vindo de fora é sempre bem-vindo. O que vão testar em você, no fim, é se você está genuinamente alinhado(a) com os valores da organização, de forma que você contribua para a sua cultura e crescimento na direção proposta.

Essa matéria faz parte da série especial dos 70 anos da FGV EAESP, que traz entrevistas com os ex-alunos que são destaques no mercado.

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