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Três Gerações, um Mesmo Propósito: A Jornada da Mulher no Mercado de Trabalho

07.03.2025

 

 

 

 

 

O Dia Internacional da Mulher é uma data de reflexão sobre os avanços e desafios da igualdade de gênero. No ambiente acadêmico e profissional, mulheres enfrentaram e ainda enfrentam barreiras para conquistar espaço. Para entender essa evolução, conversamos com três mulheres de gerações diferentes, todas ligadas à FGV EAESP, que compartilham suas experiências, lutas e esperanças para o futuro.

 

 

 

 

 

 

 

O Desafio de Ser Pioneira

Em 1968, Celia Cury Chohfi (CGAE 1974) foi uma das cinco mulheres em uma turma de cem estudantes do curso de Administração de Empresas da FGV EAESP. "No meu tempo, mulher fazia Psicologia, Letras, História. Quando decidi cursar Administração, uma conhecida da família me ligou furiosa: 'Você está tirando a vaga de um rapaz!'." Celia lembra como era mal visto para mulheres entrar em uma faculdade. Ela levou seis anos para concluir o curso pois se casou e teve filhas nesse período. Persistiu mesmo diante dos desafios, “eu ia de barrigão para aula”, ela lembra. Mesmo formada, não teve apoio do marido para trabalhar. "Já ouvi tantos nãos que me acostumei. Eu já esperava que ele não me permitiria trabalhar fora", diz.

Celia Cury Chohfi com doutor Adib Janete, ex-diretor clínico do HCor e ex-secretário da Saúde.

Apesar das limitações, Celia encontrou realização no trabalho filantrópico, aplicando os conhecimentos adquiridos na FGV na gestão da Associação Beneficente Síria, mantenedora do Hospital do Coração (HCor), onde chegou a vice-presidente. "Minha avó foi uma grande mulher, ajudou a erguer o HCor, através da Associação. Mulheres têm capacidade e estão chegando a altos cargos, mas ainda precisamos de mais representatividade na política." Por isso, Celia aconselhou suas 4 filhas a estudarem e terem uma carreira sólida antes de se casarem.

Celia (no meio) em evento beneficente com a presidente da Associação (à direita) e sua sobrinha (à esquerda).Todas as peças foram feitas por Celia em benefício da área pediátrica.

O Caminho na Liderança

Mais de 50 anos depois, Karen Facio (MPGC 2018) enfrentou desafios diferentes ao construir uma carreira no setor industrial. Gerente de Compras em uma empresa do setor de alumínio, ela tem 30 anos de experiência em um ambiente historicamente masculino.

Já no começo de carreira, Karen lembra de um episódio que vivenciou. “Fiz uma entrevista de emprego quando tinha uns 20 anos e o gerente da área perguntou se eu namorava e pretendia me casar. Respondi que nunca havia pensado nisso. Não bastando, ele perguntou se eu pretendia engravidar e se eu conhecia métodos anticoncepcionais. Hoje, é impensável que você faça esse tipo de pergunta para alguém”, relembra.

Turma do MPGC Supply Chain de 2017.

Karen enxerga muitos progressos no mercado de trabalho para as mulheres. "Nos anos 2000, participei de reuniões onde eu era a única mulher em um grupo de 20 homens. Hoje, na minha empresa, temos seis mulheres em posições de liderança no setor de suprimentos, e 3 das 8 cadeiras da diretoria são femininas. Mas ainda há setores industriais que não abrem espaço para mulheres em cargos de decisão."

Karen fez o Mestrado Profissional em Gestão para Competitividade (MPGC) na FGV EAESP em 2018, na linha de Supply Chain, e destaca a importância da qualificação para reduzir desigualdades. "Temos mais mulheres se formando na graduação, mas nos cursos de MBA, mestrado e doutorado, os homens ainda são maioria. Isso porque muitas mulheres priorizam a família e postergam a educação continuada. As empresas deveriam investir mais no crescimento profissional das funcionárias."

Para ela, o caminho é seguir em frente sem medo: "Não se intimide. Você é tão capaz quanto qualquer homem. Eles nunca duvidam disso, nós não podemos duvidar também."

 

A Esperança de Uma Nova Geração

A estudante de Administração Pública Vitória Ferreira de Souza, de 17 anos, é um exemplo da nova geração que deseja transformar o Brasil. "Sempre fui apaixonada por urbanismo. Meu sonho é trabalhar com planejamento urbano e melhorar a vida das pessoas que moram na periferia." Negra, vinda de escola pública e bolsista integral em um colégio de elite, Vitória quer levar sua vivência para o setor público. "Quero atuar na gestão de cidades para reduzir desigualdades habitacionais e de mobilidade."

Ela reconhece que ainda há resistência para mulheres em algumas áreas, como política e gestão pública. "Mulheres precisam se impor mais e lutar pelo espaço. O mundo político ainda é dominado por homens, mas estou pronta para enfrentar esse desafio." Vitória se inspira nas dificuldades e nas conquistas das mulheres que vieram antes dela e se sente motivada a continuar esse legado. "Na minha família muitas mulheres não puderam concluir os estudos e eu quero mudar essa realidade. Tenho como grandes exemplos minhas professoras do ensino médio”.

Vitória na Biblioteca da FGV EAESP.

Vitória também vê a FGV como um diferencial em sua jornada. "A FGV tem muitos programas de estágio e um nome forte, o que facilita a entrada no mercado. Só de eu ser mulher e estar aqui, isso já me abre muitas portas. Porém, precisamos sempre nos especializar. Querendo ou não, sendo mulher, acho que meu currículo sempre tem que ser mais completo. Sei que a FGV pode me dar esse nome, essa referência, esse ponto de partida."

O Futuro é Delas

A jornada de Celia, Karen e Vitória reflete o avanço das mulheres ao longo das décadas. Se antes o simples ato de ingressar em uma faculdade era uma barreira, hoje a luta está em conquistar espaço em posições de poder. O progresso é visível, mas ainda há desafios, especialmente na representatividade política e no equilíbrio entre carreira e vida pessoal.

O recado das três é claro: mulheres podem e devem estar onde quiserem. "Sigam seus sonhos, lutem pelo que querem e nunca deixem de acreditar em si mesmas", reforça Celia. O caminho foi trilhado por pioneiras, fortalecido por líderes e agora segue sendo expandido por uma nova geração. O futuro da igualdade de gênero ainda está sendo construído, mas uma coisa é certa: ele é, e sempre será, delas.

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