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Bruna Waitman: uma carreira dedicada a transformar vidas a partir da educação

28.10.2024

A alumna é CEO do Instituto Sol, que trabalha dando educação de qualidade para jovens de baixa renda ingressarem em instituições de Ensino Médio e Superior de excelência

Marcelo F. Salvatico

 

Por vezes, tomamos a decisão de dedicar uma parte da vida à alguma causa que acreditamos. Seja se voluntariando, fazendo doações, realizando mentorias... Mas hoje contamos um pouco da história da Bruna Waitman (CGAP 2011), que tem uma vida toda focada na causa em que promove: a educação.

Na editoria FGVnianos Impactando o Mundo entrevistamos nossos ex-alunos que, após estudarem na Fundação Getulio Vargas, utilizaram o conhecimento adquirido para levar impacto positivo para outras pessoas, seja de forma social, ambiental ou econômica.

Ingressante no curso de Administração Pública na EAESP em 2007, Bruna se formou em 2011 e, no mercado de trabalho sempre trabalhou com educação. Começou sua carreira na Fundação Itaú Social, ficou por 3 anos e meio na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e coordenou um programa de desenvolvimento de lideranças na Fundação Lemann.

Hoje, é CEO do Instituto Sol, que já transformou a vida de mais de 500 jovens de baixa renda por meio da educação de qualidade.

O Sol disponibiliza aulas de Matemática, Língua Portuguesa e de Projeto de Vida em seu cursinho preparatório. O instituto atende jovens, auxiliando desde o 9º ano do Ensino Fundamental até sua entrada no mercado de trabalho após finalizarem a faculdade.

Além da parte educativa, há também ajuda de custo para material escolar e alimentação, acompanhamento psicológico individualizado e uma relação muito próxima com as famílias dos jovens.

Hoje, duas garotas que participaram do Instituto Sol cursam Direito na FGV em São Paulo.

“O Sol me ajudou muito, foi um marco muito grande na minha vida. Antes eu estava numa escola pública, com poucos prospectos de mudança de vida. E depois eu percebi que estava sendo muito incentivada a crescer mais, a poder explorar mais todas as possibilidades que eu tinha”, conta Victoria Paik, aluna de Direito da FGV e ex-participante do Sol. 

Confira nossa entrevista com a Bruna e conheça a trajetória de alguém que, até pouco antes de entrar na FGV, não conhecia o trabalho com impacto, e hoje é uma das principais agentes da transformação de vidas a partir da educação.

 

- Pode me contar um pouco da sua trajetória profissional?

Bruna W.: Toda a minha trajetória foi na área de impacto, mais especificamente na área de educação. E eu costumo dizer que eu tive muita sorte, porque eu tive a oportunidade de experimentar isso nos três setores possíveis.

Eu tive experiências trabalhando na iniciativa privada, por exemplo, na Fundação Itaú Social que era o braço de investimento social do banco. Tive a oportunidade de trabalhar no governo, uma experiência muito relevante da minha trajetória, na Secretaria Estadual da Educação, onde eu liderei a expansão do Programa de Escola de Tempo Integral no Estado e a implementação do Centro de Mídias, que foi a solução de aulas online para um momento de pandemia.

Tive uma consultoria, uma organização que trabalhava com secretarias estaduais e municipais, criando soluções de impacto para os alunos, para os professores.

E agora, no terceiro setor, eu estou no Instituto Sol. Eu já trabalhei na Fundação Lemann também, então eu acho que eu tive a oportunidade de experimentar vários modelos.

 

- Por que você decidiu dedicar sua carreira ao impacto social?

Bruna W.: No final do meu Ensino Médio, participei de um concurso junto com outros colegas meus, de uma ONG da Cidade Escola Aprendiz, para desenvolver um projeto de impacto para a comunidade onde sua escola estivesse inserida. Até ali, eu nunca tinha ouvido falar de impacto.

Nosso grupo desenvolveu um projeto em que os próprios alunos atuavam voluntariamente, contribuindo para a alfabetização de funcionários de limpeza da escola onde estudei, o Colégio Bandeirantes. De 50 projetos que se inscreveram, o nosso ficou entre os seis finalistas. Ganhamos todo um suporte de capacitação para implementar o projeto, para fazer acontecer.

Naquela hora, eu falei: “nossa, eu gostaria muito de trabalhar com alguma coisa assim”.

Então, eu descobri o curso de Administração Pública. Inclusive, eu ainda sou daquela época em que os vestibulares não eram separados. Desde o começo [do curso], eu sabia que eu queria trabalhar com impacto e, especificamente, com educação, porque eu sempre acreditei que [a educação] é a alavanca que movimenta tudo de maneira mais definitiva.

 

- Durante a pandemia, garantir a educação para todos se tornou um grande desafio, principalmente na rede pública com realidades diversas. Como foi trabalhar na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo neste período?

Bruna W.: Com certeza foi o momento mais desafiador que a minha geração viveu, em termos de emergência. O Estado de São Paulo tem 3 milhões e meio de alunos. Eu costumo brincar que é um Uruguai que vai e volta da escola todo dia.

Eu fiquei à frente desse desafio de pensar o Centro de Mídias. Foram dois anos muito, muito intensos da minha vida. Eu acredito muito que a educação é essencial. Mas, naquela época, a educação nem era vista no Estado de São Paulo como um serviço essencial na prática.

Eu acho que foi durante a pandemia que ficou nítido como a escola é um ambiente fundamental, não só para o aluno se desenvolver cognitivamente, mas para ele desenvolver suas competências socioemocionais. Para ele, muitas vezes, ter segurança alimentar.

A gente muito rapidamente estruturou o Centro de Mídias, que era uma solução de aulas online. E aí a gente tinha que pensar em tudo. O que que acontece com o menino que não tem celular? Com o menino que não tem internet? Como é que faz para chegar nele?

Então eram muitos desafios todos os dias. As desigualdades ficaram ainda mais nítidas e por isso até que o nosso lema era “ninguém fica para trás”.

“Eu preciso de uma solução que responda para cada um desses jovens. O que não tem internet, o que vai ter que ver a aula pela TV”.

Muitas histórias dessa época, mas fico muito orgulhosa de contar que a gente foi selecionado pelo BID como uma das seis políticas públicas mais relevantes no combate à Covid-19 na América Latina e Caribe.

Então, esse foi um momento muito importante para eu entender todos esses desafios. E hoje, no Sol, eu trabalho com jovens que são da rede pública e uma coisa que me move muito aqui é poder apoiar esses jovens a seguirem acreditando nos sonhos deles por meio do estudo, a olhar para o projeto de vida deles e acreditar que esse caminho pode ser trilhado, tem vários caminhos possíveis, mas por meio do estudo.

 

- Como foi para você ver a situação da educação pública após ter acesso à educação de qualidade? Foi uma motivação para entrar no Instituto Sol?

Bruna W.: Com certeza. Uma coisa que me motivou muito durante todo o tempo que eu estive na secretaria foi garantir que as oportunidades chegassem nos jovens, seja onde eles estivessem.

Eu liderei o programa de escola de tempo integral na secretaria. Na época, em 2018, tinham 300 escolas de tempo integral no estado de São Paulo, e essa é uma escola em que o aluno aprende mais, a gente vê os índices de aprendizagem mais altos, ele tem segurança alimentar, aula de projeto de vida.

Acredito muito que quando o aluno entende quais são os talentos dele, o que ele quer fazer, quais são os caminhos para isso, a educação muda o jogo.

Então, dentro da secretaria, liderar esse programa que levou as 300 escolas a serem mais de 2 mil, até 2022, acho que foi uma forma de trazer isso para os nossos estudantes, e a gente também implementou a disciplina de projeto de vida para todas as escolas.

Para mim, aqui está o coração do que a gente faz no Sol. A gente começa o trabalho com estudantes do 9º ano, e com esses estudantes, além da recomposição de língua portuguesa e matemática, a gente trabalha com eles projeto de vida.

A gente ajuda os jovens a pensarem nessa transição do [Ensino] Fundamental II para o [Ensino] Médio. Um momento muito importante, e que, se esse jovem tem esse suporte para entender quais são os caminhos que ele tem para o ensino médio, o jogo muda.

Hoje, 70% dos jovens que estão no nono ano nem sabem que existe a possibilidade de ir para uma ETEC. Então, o nosso trabalho começa justamente ajudando esse jovem a fazer uma boa escolha para o Ensino Médio.

E aí, depois disso, coisas muito maravilhosas acontecem na vida deles. Como é o caso das Vitórias, que depois de terem entrado aqui no Sol, hoje, anos depois, estão estudando Direito na GV, que é o sonho delas. E que talvez elas nem acreditassem que fosse possível lá atrás.

Aqui no Sol, 75% dos nossos jovens são a primeira geração da família a acessar o Ensino Superior. E a gente vê que isso impacta toda a comunidade deles. Eles começam a fazer isso ser possível para os irmãos, para os primos, para os amigos, até para os responsáveis. A gente vê histórias de responsáveis que depois que o jovem por quem ele é responsável foi para uma universidade, eles foram atrás desse sonho também.

 

- Como que você chegou até o Instituto Sol?

Bruna W.: Depois que eu saí da secretaria eu ainda trabalhei na Fundação Lemann e acho legal contar isso, porque eu acho que encaixou perfeitamente as duas experiências aqui no Sol. Na Fundação eu trabalhava num programa de desenvolvimento de lideranças, então, o Sol nada mais é do que formar jovens para serem lideranças dos mais diferentes tipos.

A gente até nem usa tanto essa palavra, mas a gente fala: “formar cidadãos que vão transformar por onde eles forem”, e eu estava justo na Fundação fazendo esse trabalho quando eu recebi esse convite pelos conselheiros.

A gente tem um conselho muito ativo aqui no Sol, que eu acho que faz total diferença para o que a gente faz.

Topei [ir para o Sol] muito por acreditar que, conectar a educação com um olhar de desenvolvimento que começa no 9º ano e vai até o final da graduação, o ingresso no mercado de trabalho e que vai olhando para o desenvolvimento de competências, tanto cognitivas mais socioemocionais desses jovens, fortalecimento de rede e tudo mais, juntava essas duas experiências perfeitamente.

Para mim estar nessa posição hoje de liderança do Instituto é uma honra.  Primeiro é uma super confiança do meu conselho, mas para mim tem sido uma experiência muito maravilhosa de poder também participar dessa maneira tão ativa, acho que é também muito legal ter cada vez mais mulheres nessa posição de liderança que a gente sabe que é um tema que na GV vocês estão olhando muito também.

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