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André Sturm - Conheça a trajetória do FGVniano por trás do Cine Belas Artes

André Sturm (CGAE 1987) personifica uma trajetória de quase quatro décadas imersas no cenário audiovisual brasileiro. À frente do icônico Cine Belas Artes, sua marca vai além da direção, alcançando a moldagem de uma experiência cinematográfica que vai dos tempos de estudante na EAESP até sua atuação como ex-secretário da Cultura de São Paulo. Essa jornada multifacetada o transformou em cineasta, ativista cultural e visionário comprometido com a democratização do acesso à sétima arte.
Seu envolvimento inicial no cineclubismo aos 18 anos já prenunciava um futuro apaixonante: programador no Cineclube da GV e no Cineclube Oscarito, Sturm firmou suas bases na exibição cinematográfica. Fundador da Pandora Filmes, ele se tornou um agente chave na disseminação de obras nacionais e internacionais, uma expertise alimentada por passagens marcantes pela Cinemateca Brasileira e pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP). Além de sua atuação no campo cultural, ele é o atual presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP) e diretor da Associação Paulista de Cineastas (APACI).
No Cine Belas Artes, Sturm não apenas reabriu suas portas em 2014, mas redesenhou a ideia de um cinema, transformando o espaço em um santuário para os amantes do cinema alternativo e independente. Responsável pela programação do Belas Artes desde 2003, atrai mensalmente uma média de 22 mil frequentadores que buscam experiências autênticas e diversas no espaço localizado na Rua da Consolação, 2423.
Em parceria inédita entre o Cine Belas Artes e o Alumni FGV EAESP, o cinema oferece um desconto especial de 50% nos ingressos para ex-alunos e reforça seu compromisso em unir a comunidade da FGV às obras que o Belas Artes tem a oferecer. Basta apresentar a carteirinha Alumni FGV EAESP no momento da compra do ingresso. Peça a sua pelo link.
Confira abaixo a entrevista exclusiva cedida por André Sturm ao Alumni FGV EAESP:
Alumni FGV EAESP: André, você tem uma extensa carreira de sucesso no cinematográfico e nas artes em geral. Imaginou, enquanto estudante, que conquistaria tanto dentro desse setor?
André Sturm: Primeiro, obrigado pela gentileza de ter uma carreira de sucesso. E não, né? Eu entrei na GV para fazer administração e tive a sorte da GV ser uma faculdade que tinha um cineclube. Passei a participar do cineclube e isso acabou me abrindo uma nova perspectiva profissional, aonde eu me tornei um artista, mas um empresário do cinema. E que deu certo! Fico muito feliz!
Alumni FGV EAESP: De que forma a FGV contribuiu na sua trajetória profissional?
André Sturm: Assim, eu me tornei um cineasta, mas eu também me tornei um empresário da distribuição e da exibição. E um líder sindical, né? Sou hoje, já fui e sou de novo Presidente do Sindicato da Indústria. Um sindicato patronal. E a GV é uma excelente faculdade na formação empresarial, então com certeza que a eu ter feito GV - eu fiz a faculdade até o fim. Não larguei a faculdade porque virei cineasta - foi importante também na minha formação pra que eu tivesse conhecimento e aprendizado e tivesse uma cabeça também que entendesse que cultura também é indústria cultural, não é só uma atividade de diletantismo.
Alumni FGV EAESP: E como foi pra você participar do Cine clube GV? Como que você entrou?
André Sturm: Foi talvez o momento mais significativo da minha vida, porque, literalmente, minha vida tomou uma outra dimensão que eu jamais teria imaginado antes. Quando eu era jovem, a gente em geral ouvia dos pais que tinha que ser médico, engenheiro ou advogado. Eu já tinha feito uma ousadia de fazer faculdade de administração, mas isso porque meu pai trabalhava em empresa, era um executivo, então ele achou legal. Imagina se alguém pensava em trabalhar com cinema? Não fazia parte do universo, não é como hoje que tem, sei lá, oito faculdades de cinema em São Paulo. Quando eu era jovem tinha duas e não era exatamente algo tão conhecido.
Entrar no Cineclube foi uma coisa assim: um dia eu estava no segundo ano e um dia do lado elevador, tinha um aviso, “venha participar do cineclube da GV - Reunião quinta-feira.”
Aí eu fui à reunião, eu me interessei. Eu já gostava de cinema, já ia ver filmes, mas nunca tinha pensado como uma profissão. Então comecei a participar do cineclube, comecei a entender como é que funciona o negócio do cinema. Embora fosse um cineclube sem fins lucrativos, mas ele precisa pagar contas, buscar o filme, fazer a programação, a divulgação e ter alguns funcionários. Precisa fazer funcionar. E isso abriu esse universo. Eu descobri que eu podia trabalhar com cinema e que isso tinha um trabalho a fazer. E aí minha vida tomou um rumo completamente diferente.
Alumni FGV EAESP: Como que você se fascinou pelo cinema? Foi nesse momento do Cineclube ou foi antes?
André Sturm: Isso é aquela coisa que eu não sei se foram meus pais ou seu eu já nasci assim, mas desde que eu me dou por gente que eu gostava de ir ao cinema.
Meus pais iam no cinema, me levavam. Foi algo que desde muito pequeno eu gostava de ir, de ver filme. Eu passava longas férias em Guarujá quando era criança, tinha um cinema grande lá. E sei lá, o meu pai passava o fim de semana (na praia) e passava a semana em São Paulo, trabalhando. Eu ficava com a minha mãe e meus irmãos. Meu pai dava o que seriam hoje uns 20 reais pra cada um de mesada.
E eu me lembro que eu gastava o meu dinheiro pra comprar 2 ingressos pro cinema. Eu escolhia os dias pra ir, ficava vendo os filmes que iam passar. E meu irmão, bom, que é 1 ano mais novo que eu, não ia comigo. Ou seja, ele tinha outros interesses. Não sei o que ele fazia, mas eu ia sozinho no cinema. Então eu sempre tive essa paixão pelo cinema, mas nunca imaginei que pudesse ser um trabalho. É, não tinha essa perspectiva, né?
Alumni FGV EAESP: Quantos anos você tinha mais ou menos nessa época?
André Sturm: Ah, isso foi dos 7 aos 10 anos, por aí. Essas longas férias que eu passava lá em Guarujá com minha família. Talvez até os 12, enfim...
Alumni FGV EAESP: Por qual razão que o cinema é a sua causa?
André Sturm: Então, aí vem no cineclube, eu comecei a entender como é que funcionava a exibição. Eu comecei a entender como é que funcionava a distribuição. E aí eu resolvi que eu também queria fazer filmes. Aí eu fiz um filme. Ganhei um prêmio na Secretaria de Cultura e pude fazer o meu primeiro curta-metragem. Então fiz um segundo curta-metragem. Depois eu descobri que tinha uma associação dos curta-metragistas, me meti lá e comecei a participar. Resolvi que eu queria ter uma distribuidora de filmes, daí eu montei uma distribuidora de filmes. Então pensei em ter um cinema e arranjei um cinema.
“Montei”, não é assim de uma hora para a outra. Foi tudo bem complexo. Também, acho que tem um pouco de personalidade, né? Eu comecei a achar que coisas podiam melhorar. Comecei a ter uma participação mais ativa. Primeiro nessa associação de curta metragistas, comecei a buscar espaço. E ao longo da vida fui participando de outras entidades. Me tornei, digamos, que uma pessoa pública. De uma militância frequente nos principais acontecimentos do audiovisual, do cinema, em termos de legislação, de discussão.
Acabei me tornando Secretário de Cultura, mas sempre militando pelo cinema, pela cultura. Nunca tive uma vida partidária. Toda a minha vida, vamos chamar, política, foi nas entidades do audiovisual, batalhando pela causa do audiovisual e da cultura. Nunca do ponto de vista partidário. Embora eu tenha trabalhado no Governo do Estado, tenha sido Secretário Municipal de Cultura também, nunca tive uma militância partidária. Sempre foi porque as pessoas que me convidaram e me convidaram pela minha experiência no mundo da cultura.
Alumni FGV EAESP: André, você recomenda essa carreira para os FGVnianos? Como que você acha que está o mercado se alguém quiser entrar nele hoje?
André Sturm: O mercado do audiovisual no Brasil hoje é um mercado muito estruturado, muito forte, com perspectivas de crescimento. A entrada dos streamings internacionais e dos streamings nacionais gerou uma demanda por conteúdo muito grande. Várias produtoras, empresas que existiam no Brasil, produtoras de conteúdo, muitas delas cresceram, outras pequenas viraram médias. Portanto, é um setor que hoje é significativo e que eu acho que cresce. É um setor que demanda profissionais, seja para trabalhar nas empresas existentes, porque a maior parte das pessoas que acaba indo para o cinema vem da área da formação mais artística. Pouca gente da formação, como posso dizer, de gestão, vai para esse setor. Então é um setor que tem uma demanda de profissionais nessa área e também para quem quiser empreender, ser um empresário.
Alumni FGV EAESP: Quais os três filmes imperdíveis de 2023 você recomendaria para os FGVnianos?
André Sturm: Eu vou falar dois filmes que me vem fácil a cabeça, que eu acho que foram muito bons. “Meu nome é Gal”. E também “Ângela”, que é sobre o assassinato da Ângela Diniz, anos atrás. São dois filmes bastante acima da média, muito bem-feitos, com excelentes atores, trabalhando muito bem. Recomendo com certeza.
Recomendo um filme italiano, do Nanni Moretti, que estava no festival de Cannes desse ano, 2023, que vai estrear na primeira semana de 2024. Inclusive tem um título alvissareiro, “O melhor estar por vir”. É um filme pra quem gosta de cinema, muito bom. É sobre um cineasta que tá fazendo um filme na Itália e está tendo dificuldade. Então é uma (comédia), faz muitas piadas e muitas graças. É muito inteligente, muito suave e bem-humorado. É sobre o mundo do cinema independente, justamente. Não é o cinema de Hollywood. Então recomendo esse filme também, que estreia bem no comecinho de 2024.
Alumni FGV EAESP: Você gostaria de fazer mais alguma consideração?
André Sturm: Posso dizer que realmente foi incrível ter feito a FGV. Eu tenho excelentes lembranças. Fiz amigos, tive ótimos professores. E embora eu não tenha entrado na FGV pra isso (se tornar um cineasta) e acho que nem a FGV imaginava (que ele se tornaria um cineasta); mas o fato da FGV, na época, ter um cineclube, o que pouquíssimas faculdades de São Paulo tinham, acabou me levando para uma carreira inesperada. De sucesso e que eu acho que eventualmente, outros alunos da FGV podem se interessar e que eu recomendo.