
Geografia do Pix: Como o Sistema de Pagamentos Instantâneos Redesenha o Mapa Financeiro do Brasil
Autor(es)
Por Leonardo Martins de Oliveira, pesquisador do FGVcemif.
Desde sua criação pelo Banco Central em novembro de 2020, o Pix transformou a maneira como os brasileiros realizam pagamentos. Agora, um estudo recém-divulgado por Fabricio Trevisan, Lauro Gonzalez, Eduardo Diniz e Adrian Cernev lança luz sobre a geografia do Pix no país, analisando a adesão e os padrões de uso em diferentes regiões e municípios ao longo de 2024.
O Crescimento Vertiginoso do Pix
Em apenas quatro anos, o Pix superou o dinheiro em espécie como o meio de pagamento mais utilizado no Brasil. Segundo o Banco Central, mais de 150 milhões de pessoas físicas já realizaram pelo menos uma transação via Pix. O estudo *Geografia do Pix* busca compreender como esse crescimento se distribui territorialmente e quais fatores influenciam seu uso.
Disparidades Regionais: Quem Mais Usa o Pix?
A pesquisa revela que a taxa média nacional de adesão ao Pix é de 63%, ou seja, quase dois terços da população realizou pelo menos uma transação mensal em 2024. Contudo, existem diferenças expressivas entre estados e regiões:
- Distrito Federal lidera com a maior adesão (77,9%), seguido de São Paulo (70,49%) e Amapá (71,56%).
- Piauí tem a menor adesão, com apenas 54,7% da população utilizando o sistema regularmente.
- Estados das regiões Norte e Nordeste, apesar de apresentarem adesão inferior à média nacional, registram frequência de uso elevada.
Os pesquisadores destacam que, em regiões de menor renda, aqueles que aderem ao Pix tendem a utilizá-lo com mais frequência do que em estados mais ricos.
A Intensidade de Uso: Quantidade e Valor das Transações
Outro indicador analisado no estudo foi o número médio de transações por usuário. Em 2024, os brasileiros realizaram, em média, 32 transações Pix por mês. O Amazonas lidera esse ranking, com 47 transações mensais por usuário, enquanto Santa Catarina registra o menor índice (25 transações por usuário/mês).
Já o valor médio das transações varia consideravelmente:
- Regiões de maior renda, como Sul e Sudeste, registram valores médios mais altos (R$ 223,84 e R$ 208,80, respectivamente).
- No Norte e Nordeste, onde a frequência de uso é maior, o valor médio por transação é menor (R$ 147,58 e R$ 151,47, respectivamente).
- O Amazonas exemplifica esse fenômeno: enquanto seus habitantes realizam mais transações, o valor médio de cada uma delas é de apenas R$ 120,53, refletindo um uso cotidiano e de menor valor agregado.
O Caso Excepcional de Pacaraima
Um dos achados mais surpreendentes do estudo foi o município de Pacaraima, em Roraima, que apresentou um índice de adesão ao Pix superior a 500%. Com apenas 19.305 habitantes registrados no Censo de 2022, a cidade teve uma média de 106.104 usuários Pix por mês em 2024. Esse fenômeno, segundo os pesquisadores, está diretamente ligado ao fluxo migratório de venezuelanos que utilizam o sistema para transferências e pagamentos.
Implicações e Futuro do Pix
Os resultados do estudo sugerem que o Pix não apenas se consolidou como ferramenta essencial no cotidiano financeiro do brasileiro, mas também reflete desigualdades regionais. Regiões de menor renda adotam o sistema com intensidade, mas com transações de valores menores. Já estados mais ricos apresentam uma adesão elevada, porém com menor frequência de uso.
Para os pesquisadores, entender a geografia do Pix pode ajudar a orientar políticas públicas e estratégias do setor financeiro, promovendo inclusão e eficiência no sistema de pagamentos. O estudo também abre caminho para investigações futuras sobre os impactos do Pix na economia informal, no comércio e na mobilidade financeira no Brasil.
O link com o slide e os dados do estudo pode ser acessado abaixo.