
Pegada de carbono da carne bovina brasileira exportada para a União Europeia: resultados e premissas para o cálculo das emissões do ciclo de vida do produto
O Brasil se destaca no cenário mundial como um dos maiores produtores, exportadores e consumidores de carne bovina. Com um rebanho de aproximadamente 214,7 milhões de cabeças, o setor pecuário produziu, em 2018, 10.959 milhões de toneladas de equivalentes de carcaça, dos quais 20% foram exportados (ABIEC, 2019a). Esses números fazem do Brasil o maior exportador e o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo (ABIEC, 2019a).
A pecuária de corte é também uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil. Em 2015, o setor agropecuário contribuiu com cerca de 25,6% das emissões brutas de GEE no Brasil, sendo que as emissões da fermentação entérica e do manejo de dejetos de gados de corte representaram 49,4% desse montante (MCTI, 2016a).
No entanto, o crescente reconhecimento de que os hábitos e escolhas alimentares impactam nas mudanças climáticas, na biodiversidade e no uso de recursos naturais, vem pressionando os diversos atores desse setor a favor de mudanças rumo a sistemas de produção menos impactantes (DAGEVOS; VOORDOUW, 2013). Soma-se a isso a expansão dos diversos tipos de rotulagem de produtos (os ditos produtos “verdes” ou “sustentáveis”) e a crescente demanda de consumidores individuais e institucionais por informações ambientais sobre os produtos adquiridos. Iniciativas como o The Single Market for Green Products Initiative1, que passará a demandar informações sobre os aspectos e impactos ambientais dos produtos comercializados na União Europeia (UE), são fortes indicadores de que o setor da pecuária – assim como outros – deverão se adequar para permanecerem em seus mercados de atuação.
Metodologias capazes de levar em conta toda a cadeia produtiva de um produto (bem ou serviço), como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), permitem quantificar com eficiência os impactos ambientais associados aos processos e atividades em toda a cadeia. Desta forma, servem como ferramenta para justificar potenciais benefícios de produtos considerados mais sustentáveis, bem como oferecer insumos para uma gestão mais eficiente dos processos e impactos negativos. A ACV pode contribuir, portanto, para a promoção de produtos a partir de seus atributos ambientais. É nesse contexto que surge o Projeto “Avaliação do Ciclo de Vida como instrumento para análise da competitividade internacional de produtos brasileiros: estudo de caso da carne bovina”, também denominado Pegada de Carbono da Carne Bovina Brasileira (PCCBB) daqui em diante.