
Escolas de Negócios em Chamas: Engajando Estudantes no Ativismo no Brasil
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Introdução
O ano era 2019. Um incêndio devastador varreu a floresta amazônica brasileira, capturando a atenção do mundo, com os impactos ganhando destaque em veículos de notícias internacionais. Até mesmo São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, localizada a milhares de quilômetros dos incêndios, viu seus céus escurecerem, e uma chuva de fuligem negra, vinda da Amazônia, caiu sobre nós. O governo federal acusou ONGs socioambientais e povos indígenas de envolvimento nesses incêndios, levando à prisão de alguns ativistas e trabalhadores de ONGs. Isso marcou um novo capítulo em uma série de medidas antidemocráticas dentro do estado, culminando em um papel reduzido da sociedade civil na governança e na formulação de políticas públicas.
Diante dessas circunstâncias, na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), uma equipe de facilitadores de um curso conhecido como FIS (acrônimo de Formação Integrada para Sustentabilidade) decidiu aprofundar-se no papel das ONGs brasileiras no contexto do desenvolvimento sustentável. Com base em suas experiências anteriores de trabalho com ONGs, os facilitadores compreenderam o papel vital dessas organizações em desafiar o modelo hegemônico de desenvolvimento econômico que contribui para o desmatamento, agrava as desigualdades e negligencia os povos indígenas.
Um ano depois, inspirados pelo foco em ativismo e organização apresentado na conferência ephemera sobre "Organização ativista e ativismo organizado: Um mundo pós-pandemia em construção", realizada em maio de 2021, os facilitadores do curso, juntamente com dois outros pesquisadores, buscaram explorar se a experiência do curso poderia servir como uma forma de ativismo no campo da educação em administração. O resultado dessa reflexão é transmitido por meio da narrativa a seguir e do mini-documentário ("mini-doc"), que convidamos você a assistir antes de continuar lendo as próximas páginas (disponível em https://youtu.be/yfZgFhUL46o). Este formato duplo foi escolhido para imergir os leitores (e espectadores) nas reflexões dos alunos e facilitadores e para tornar este trabalho acessível fora do meio acadêmico. Consideramos isso um ato de ativismo, pois estamos levantando nossas vozes "nos espaços onde teoria e prática se sobrepõem" (Authers et al., 2007: 315).
No entanto, é importante mencionar ao nosso público acadêmico que nosso principal objetivo com este trabalho não é apresentar uma contribuição teórica para o ensino do ativismo (Contu, 2017). Em vez disso, queremos convidá-lo a compreender o procedimento seguido e como os envolvidos o entenderam um ano depois. Ao fazer isso, nos distanciamos da escrita acadêmica tradicional, adotando uma abordagem narrativa, tanto visual quanto textual, além de fornecer conteúdos ilustrativos. Nossa intenção é contribuir para o debate sobre o que significa ser um ativista no contexto de uma escola de negócios (b-school).
Consideramos este artigo uma contribuição politicamente comprometida. Todos os autores, por meio de seu trabalho e pesquisa em temas como educação em administração, questões ambientais e crises sociais, sentiram um propósito coletivo em ilustrar o conceito de ensino do ativismo por meio do estudo de caso do FIS. Acreditamos que é hora de estudos que sejam ativamente e politicamente comprometidos em desafiar noções tradicionais, especialmente a ideia de que a observação imparcial é possível e que a pesquisa acadêmica deve ser desprovida de valores (Ergene et al., 2021). Nosso trabalho explora como os professores dentro de escolas de negócios podem causar um impacto significativo ao se envolverem nesses diálogos e práticas.