- Estratégia Empresarial
Alumni impactando o mundo - Tese Premiada Pablo Leitão

Por João Paulo Vergueiro (CDNAPG 2026)
Neste espaço, contamos histórias de transformação e impacto protagonizadas por gente da nossa rede. Essa é uma forma da comunidade conhecer outros membros, e ao mesmo tempo, divulgar trabalhos que merecem os holofotes.
O alumnus Pablo Leão (CMNAE 2017) concluiu seu mestrado na FGV com excelência, tendo recebido um prêmio pela dissertação apresentada. Atuando no momento como pesquisador no Centro de Estudos em Competitividade Internacional da Fundação Getulio Vargas e professor convidado, Pablo está no doutorado e conversou com a gente sobre o impacto que a FGV teve em sua carreira acadêmica e profissional.
Confira a seguir como foi a conversa:
Alumni: Qual era o objeto do trabalho desenvolvido por você, que resultou na premiação?
Pablo: O projeto como um todo buscou compreender melhor o papel e as capacidades dos gestores que influenciam processos de mudanças organizacionais - mais especificamente a transformação digital. A importância da transformação digital para as organizações tem sido um tópico recorrente em pesquisas acadêmicas, relatórios de consultorias e pautas de políticas públicas. Ou seja, é um assunto importante e as empresas que buscam se manter competitivas precisam se ajustar aos avanços tecnológicos, alinhados aos seus processos e estrutura. Esses aspectos já foram discutidos em inúmeros trabalhos, porém poucos trabalhos têm focado no papel dos gestores nesse processo. Com o intuito de preencher essa lacuna e compreender esse fenômeno com maior profundidade, o meu projeto como um todo buscou responder: como os gerentes apoiam e influenciam o processo de transformação digital nas organizações. Essa pergunta é bem ampla, então para respondê-la eu desenvolvi três artigos que focam em aspectos específicos nesse processo de transformação.
No primeiro artigo, eu integrei a literatura de diferentes perspectivas em mudanças organizacionais para mapear os principais aspectos gerenciais que emergem e influenciam processos de mudanças nas organizações. No segundo artigo, conduzi um estudo de casos múltiplos com empresas brasileiras que estão passando por processos de transformação digital e apresentam sinais de bons resultados. O objetivo era compreender como os gestores desenvolvem capacidades que apoiam a transformação digital das suas organizações. Por fim, no terceiro artigo, eu realizei um estudo quantitativo. Nesse estudo eu apresento o conceito MAD, managerial attention to digital. Esse construto busca capturar, com o passar do tempo, o nível de atenção dos gerentes a questões relacionadas à transformação digital - como tecnologias digitais, processos guiados por dados e processos digitais.
Alumni: Ter recebido o reconhecimento influenciou ou tem influenciado sua atuação profissional ou acadêmica pós-FGV?
Pablo: Absolutamente, melhor que a validação externa, premiações como essas nos ajudam a confiar no processo e nos mostram que estamos no caminho certo. Fazer pesquisa impõe vários desafios e são muitas as incertezas. O processo de publicação, geralmente o maior sinal de validação para um pesquisador, é extremamente demorado e muito competitivo. Nesse contexto, prêmios como esses se tornam ainda mais importantes.
Alumni: Como foi o período na FGV? Como a Escola contribuiu com o seu desenvolvimento acadêmico?
Boa parte da minha jornada acadêmica foi na FGV. Comecei o mestrado e no mesmo ano que finalizei o mestrado entrei no doutorado. Foram quase seis anos na FGV EAESP e durante esse período fui exposto a diferentes experiências que me ajudaram a chegar aonde cheguei. Existem muitas oportunidades na EAESP, mas o processo dentro da escola exige uma abordagem empreendedora. É preciso explorar as oportunidades nos diferentes departamentos e centros de pesquisa. Sempre digo que é importante ver e ser visto para que possa aproveitar ao máximo essas oportunidades. É inegável que a FGV possui um dos melhores aparatos de pesquisa em negócios se comparada com outras escolas no Brasil, mas tem desafios também que são reflexo de uma estrutura institucional maior. É necessário estar ciente disso e a melhor forma de lidar com esses desafios é contar com o apoio das pessoas. Meu ponto é, não é uma jornada solitária, e não deve ser. Temos acesso a ótimos professores, muitos reconhecidos internacionalmente, com boas redes de contato, temos acesso a diferentes centros de pesquisa que nos possibilita participar de projetos em diferentes tópicos. E o mais importante, é um lugar onde comunidades podem ser construídas e acredito que essa foi uma das melhores heranças que tenho da FGV. Encontrei pessoas que se tornaram grandes amigas(os) e parceiras(os) de pesquisa. Foi sem dúvida uma jornada de muito aprendizado e autoconhecimento – mais com muito trabalho.
Alumni: Qual sua atuação profissional no momento?
Pablo: Eu dei um passo um pouco atípico. Ao invés de ir para o mercado de trabalho tradicional que seria fazer um pós-doc ou seguir para uma vaga de professor assistente, eu tive a oportunidade de começar um segundo doutorado na Copenhagen Business School (CBS). Considerando as diferenças entre o doutorado no Brasil e o doutorado na Dinamarca, essa opção me pareceu interessante e mais atraente que um pós doc. Diferente do Brasil, doutorandos na Dinamarca são contratados pelas escolas e fazem parte do “faculty”. Em outras palavras, além de fazer cursos e conduzir pesquisa também damos aulas e orientamos projetos de tese e TCC. O trabalho é mais intenso, mas o treinamento foca em outras capacidades que me pareceram complementares aquelas que recebi enquanto na EAESP. Com essa mudança também tive a oportunidade de criar uma rede de pesquisa internacional, me expor a um outro ambiente de ensino e pesquisa e explorar outros campos de interesse.
Alumni: Você teria algum conselho especial para dar à comunidade Alumni da FGV, para quem estiver pensando em iniciar um mestrado ou doutorado na escola?
Pablo: Acredito que o principal aspecto para seguir nessa carreira é ser resiliente. É um processo longo e com muitos obstáculos, especialmente no Brasil onde os recursos são limitados. Na minha perspective a EAESP oferece uma das melhores condições considerando os desafios do país. Mesmo assim, e aí não importa se no Brasil ou no exterior, é necessário ser empreendedor, como empreender em um negócio o processo pode ser extenuante, mas gratificante se conseguir encontrar o equilíbrio. Quando digo empreender, me refiro a ideia de explorar as mais diversas oportunidades, ser criativa(o), tentar, errar, aprender e repetir esse ciclo algumas vezes. Como em qualquer profissão é necessário gerenciar expectativas e saber lidar com as frustrações. Como disse no início, o principal mecanismo de validação imposto pelo mercado tende a demorar (ex. publicação em bons periódicos), mas é possível alcançar satisfação profissional através do ensino e da pesquisa aplicada, por exemplo. De qualquer forma, não é uma carreira de ascensão rápida, é preciso ter paciência e conseguir aproveitar a jornada. Sendo criativa(o) – e resiliente – é possível explorar diferentes caminhos que um mestrado / doutorado podem abrir e gerar impacto social. E eu acho que esse aspecto possa ser um dos mais instigantes dessa profissão.
Para facilitar o processo eu sugiro que conversem com outras pessoas que já passaram por essa experiência. Adote um papel mais ativo em contatar pessoas via LinkedIn e outras redes sociais. De modo geral, acadêmicos estão dispostos a compartilhar suas experiências e ajudar quem está no início. Contudo, é essencial compreender que as experiências são extremamente individuais, porém essas conversas oferecem perspectivas diferentes para que uma decisão mais informada seja tomada. Outro ponto importante é compreender que esse processo pode ser solitário, mas existem formas de reduzir essa solidão. Novamente, seja empreendedora, e aqui isso também está relacionado na busca de apoio, e especialmente na construção de uma rede. Busque por mentoras e mentores para compreender melhor os diferentes caminhos e te auxiliar nesse processo. Não precisa ser a orientadora, pode ser até mesmo antes de entrar em um programa – aconselho fortemente que seja antes. Um conselho especialmente para quem é minoria política social– o percurso é obviamente mais difícil para nós, de toda forma, não é impossível. Nesse caso, ter uma rede de apoio se torna ainda mais relevante. O lado positivo é que tem havido mais discussões e programas para facilitar o acesso aos programas da pós.
Entrevista conduzida pelo João Paulo Vergueiro. Graduado, mestre em administração pública e doutorando na FGV EAESP, e bacharel em direito na USP. Professor e coordenador do Fundo de Bolsas e do Alumni na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - FECAP e diretor para a América Latina e Caribe da organização GivingTuesday