- Sustentabilidade
Projeto El Agua nos Une inicia mais um ciclo de trabalho em parceria com o FGVces no Brasil
Desde 2010, a Iniciativa El Agua nos Une vem trabalhando junto ao setor privado na construção de uma agenda de governança em água na América Latina, usando a pegada hídrica como ferramenta de gestão.
No Brasil, a iniciativa é fruto de uma parceria entre a Agência Suíça para Desenvolvimento e Cooperação (COSUDE) e o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), que agora iniciam mais um ciclo de trabalho. Para marcar o lançamento da nova fase, que abrange o período de 2023 e 2026, foi realizado um evento online em 06 de junho. Juliana Picoli, pesquisadora do FGVces, e Kenneth Peralta, Oficial Nacional de Projetos da COSUDE, fizeram a abertura do encontro e apresentaram a iniciativa e seus objetivos.
Entre outros pontos, Peralta apresentou os países envolvidos no novo ciclo – Brasil, México, Colômbia, Peru, Chile e Uruguai (os dois últimos por meio de ações remotas) – e as linhas de trabalho do projeto, que busca o fortalecimento de políticas públicas; a melhoria da gestão corporativa da água; a promoção do consumo responsável; a conservação da infraestrutura natural; e a formação de comunidades de prática.
No Brasil, a inciativa será novamente implementada pelo FGVces com a parceria da Rede ACV, Pacto Global e ACV Brasil (leia mais aqui). A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e a São Salvador Alimentos são as empresas já confirmadas para participar do projeto ao lado de outras duas, ainda em fase de seleção. Elas serão formadas quanto aos métodos e ferramentas para fazer a quantificação de pegada hídrica e, posteriormente, vão desenvolver um estudo para calcular a pegada hídrica de um produto de seu portfólio.
Juliana Picoli ressaltou que um dos diferenciais do projeto será justamente essa formação. Serão as próprias empresas que farão o estudo, ao contrário do que aconteceria em um projeto de consultoria. Feito o estudo, as empresas ainda implementarão um plano de redução com base nos resultados e pontos críticos apontados previamente.
Mesa-redonda com especialistas
Para debater a importância da pegada hídrica na gestão corporativa, foram convidados os especialistas Mário Cardoso, gerente de Recursos Naturais da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Sonia Chapman, secretária executiva da Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de Vida; e Felipe de Sá Tavares, Superintendente de Estudos Hidrológicos e Socioeconômicos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Com a mediação de Guarany Osório, coordenador do programa de Política e Economia Ambiental do FGVces, o bate-papo cobriu uma série de temas, desde a diversidade regional do Brasil, que gera demandas diferentes em relação à gestão da água, até os desafios da comunicação para informar e influenciar mudanças de comportamento.
Mas ao longo do debate, vários pontos em comum emergiram, como a importância da atuação integrada entre os setores público, privado e sociedade em geral. Sonia Chapman ressaltou que o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 17, que trata justamente das parcerias, é o que menos vem sendo trabalhado, em sua opinião. Contudo, ela ressalta que as ações das empresas estão correlacionadas com as de outros atores e que, portanto, deve haver um senso de corresponsabilidade na cadeia de valor, inclusive para mapear oportunidades de melhoria nos processos.
Em linha com esse posicionamento, Mário Cardoso também lembrou, apesar da gestão dos recursos hídricos impactar diretamente a competividade das empresas, muitas ainda operam sob a “gestão do susto”, agindo somente quando há escassez. Para mudar esse cenário, é preciso um “ambiente mais previsível” no Brasil para permitir planejamentos de longo prazo da parte do setor empresarial, apontou. Da mesma forma, o gerente de Recursos Naturais da CNI também defendeu um novo arcabouço legal para que as empresas possam investir e/ou testar novas tecnologias e abordagens.
Sobre esse ponto, Felipe Tavares afirmou que poderia ser criado um “sandbox regulatório”, que funcionaria como um ambiente regulatório experimental, criado com a finalidade de suspender temporariamente a obrigatoriedade de cumprimento de normas exigidas, para permitir experimentações e incentivar a inovação.
Tavares também ressaltou por fim que as agendas de clima, biodiversidade, gestão de recursos hídricos, gestão de resíduos etc. estão interligadas e devem ser trabalhadas em conjunto nas estratégias empresariais. Na realidade, contudo, a agenda de clima é a que mais tem visibilidade e espaço nas empresas, comentou.
O vídeo do evento está disponível no canal do YouTube do FGVces.